quarta-feira, outubro 27, 2004

Eclipses e deuses.

Logo mais, aos 44 minutos do novo dia, um eclipse total da Lua poderá ser observado em seu momento de ocultação máxima para os habitantes de algumas cidades das regiões Sudeste e Centro-Oeste.

Durante o último eclipse total da Lua, (ano passado, se não me falha a memória) tivemos oportunidade de observar a ocultação total aqui mesmo do Rio de Janeiro. É uma imagem para ficar na lembrança. Por volta de uma hora da madrugada lá estava eu, as costas apoiadas na grade da varanda do décimo terceiro andar, olhando a Lua 'a pino' escurecida por estar na penumbra projetada pela Terra. Esqueci até meu medo de altura...
O eclipse total da Lua ocorre sempre na Lua cheia, já que esta é uma condição sem a qual não haveria a passagem da Terra entre o Sol e o nosso satélite natural. Esta coincidência, bem como a sabida influência do ciclo lunar em diversos ciclos terrestres, tais como as marés, as colheitas e a menstruação feminina, (redundante, não?) é a causa de diversas crenças.
Os calendários antigos eram de costume lunares. A variação de datas do Carnaval - que se relaciona com as datas da Páscoa, por exemplo, deriva do fato de o calendário Judeu ser lunar e a comemoração da Páscoa estar ligada à primeira Lua Cheia da Primavera, no hemisfério norte. Como o conhecimento do sistema solar era incompleto, tornava-se mais fácil observar a Lua e seu ciclo constante e mais curto.
Daí para a instituição de deusas lunares foi um passo. Na Roma antiga era Luna ou Lucina. Selene ou Artemis para os gregos; Nut dos egípcios. Regia a moite e na Astrologia rege o signo de Câncer.

Uma boa leitura sobre a Lua e a Religião está em The Moon in Religion página da astrônoma amadora Cheryl Robertson.

E já que estamos falando de eclipse da Lua, que dizer então dos eclipses totais do Sol, quando a Lua se interpõe entre este e a Terra?

Vejamos:
'Em uma coincidência sem igual no sistema solar, o diâmetro do sol é 400 vezes o diâmetro da Lua, e a Lua está aproximadamente 400 vezes mais próxima da Terra que o sol. Essa combinação permite que a Lua cubra com bastante exatidão o disco do Sol, ao passar entre este e a Terra. Se o diâmetro da Lua fosse uns duzentos e vinte quilômetros menor, a ocultação total não ocorreria e jamais se poderia observar a coroa solar durante um eclipse.'- De um artigo na National Geographic Magazine, sobre o eclipse total do Sol, ocorrido em 11 de julho de 1991.


Há quem veja nessa "coincidência" a mão de Deus. Teriam sido tais proporções criadas para nos mostrar que alguém nos observa? O certo é que a Ciência bem feita só tende a nos aproximar do conceito de um Deus em tudo superior aos nossos limitados esforços para entender por completo o Universo.

"Durante um eclipse total do Sol, há um período máximo de ocultação durante o qual a Lua fica diretamente sobre o disco solar - dependendo do ponto de vista do observador.
Nesse momento, o círculo negro da Lua, rodeado pela coroa solar, apresenta uma semelhança surpreendente com um majestoso olho a mirar lá dos céus o nosso planeta Terra. O contorno escurecido da Lua, ocultando o disco brilhante do Sol, forma a pupila desse olho celeste, enquanto o halo etéreo, formado pela miríade de raios e faixas de luz, afastando-se do disco negro, assemelha-se, vivamente, à íris de um olho. Sabendo que a pupila do olho é basicamente um buraco através do qual a luz passa em direção aos cones e bastonetes da retina, não devemos nos surpreender por descobrir que a Lua enegrecida observada durante o eclipse seja, ao menos como metáfora, comparada a um 'buraco no céu'."



Magnífica ilustração em cores do eclipse total do Sol em 7 de agosto de 1869, por W. S. Gilman.

Uma das consequências dessa semelhança, parece ser a representação do eclipse como um grande pássaro do Sol, presente nas culturas Azteca, Maia, Inca e Egípcia. Não por coincidência - creio eu - o Sol teve status de divindade nessas culturas. Além do que, não podemos negar o adiantado estado do conhecimento acumulado por esses povos. Ou seja, aliada à religião a ciência desses povos obteve significativos avanços pela observação dos fenômenos naturais.

Hoje, temos acesso à informação e ao conhecimento adquirido ao longo de séculos de pesquisas e observações de homens como Galileu, Newton, Hubble, ou Einstein (para ficar em poucos exemplos) e um fenômeno como o eclipse total do Sol, ou da Lua, pode ser compreendido e observado sem arrepios de medo ou apreensão.
Não há, aparentemente, deuses ou espíritos ocultos a nos espreitar por trás da escuridão.

Entretanto, imaginem como os observadores da Antiguidade (que acreditavam em uma Tera plana e mal começavam a observar os movimentos dos planetas entre as estrelas) deviam encarar um grande olho a observá-los do alto de um céu escurecido em pleno dia! Apavorante,não?

Obs: imagem e citações do site de Mr. Robin Edgar Eye of God.

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