sexta-feira, abril 04, 2014

no instagram

Tenho uma conta no Instagram, onde venho experimentando as facilidades da postagem rápida de fotos e comentários, direto do smatphone. Ainda tenho um problema; e acho que é um problema de todos: acesso à internet longe do meu wi-fi. Em certos lugares, não consigo enviar as fotos pela rede móvel. Penso que se eu concordar em pagar algum por fora a Oi vai me fornecer um pacote de dados para serem usados através de uma conexão meio sem-vergonha, do jeito das antigas linhas discadas. Ou seja, uma conexão que não vale um tostão furado.

Haja catilogência para escapar dessas armadilhas.

Mas, tudo bem. Lá estou em dmaretta45.

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50 anos depois

Hoje andei lembrando dos tempos da Redentora Revolução de 1964. Dizem que a coisa aconteceu em 31 de março, mas para mim foi no primeiro de abril - quando meu velho chegou da padaria e sentenciou:
"- Acho melhor você não ir para a escola hoje."
Pensei comigo: "-Deve ser alguma coisa séria pro velho achar que eu devia faltar às aulas, pois se fosse greve dos trens ou dos bondes (que paravam de rodar a três por dois) simplesmente me comunicaria:
"- Mais uma greve. Não tem trem hoje."
Como já estava acordado mesmo, levantei e fui pro ritual matinal. Depois de tomar banho, escovar os dentes etc. sentei-me diante do café forte com pão e manteiga e como em quase todas as manhãs normais dei ao meu gato - o Gato, como sempre o chamei, sem lhe dar um nome especial - algumas bolinhas de miolo de pão molhadas em leite meio morno. Gato lambia o leite das bolinhas de miolo e quando já não encontrava o sabor do leite nelas, saía calmamente para suas excursões matinais.
Quando o velho saiu para buscar o jornal, fui devagar pelo corredor que levava da casa de fundos onde morávamos para o portão.
Ao chegar à rua entendi a preocupação de meu pai. Uma espécie de carro de combate, pequeno e esquisito, estava parado na margem da passagem de nível (popularmente: a cancela) em frente às duas lojas do nosso lado da rua. Uma delas o armarinho do meu velho e a outra o botequim do tio N.
Do jeito que apontava o cano de seu canhão, certamente de calibre pouco poderoso, para nossas casas parecia que o Exército Brasileiro ali estava para evitar que cometêssemos, nós pobres e ainda atônitos populares, alguma atrocidade. Talvez.
Assim começou meu primeiro dia sob o governo da Ditadura.

De qualquer lado que eu veja, 1964 foi um ano complicado para mim e para alguns companheiros da época.

Logo de cara, tive que esperar mais três semanas até que a fúria do novo diretor da escola abrandasse, pois o puxa-sacos pensava que ia talvez se tornar um herói da ditadura expulsando os "subversivos" do grêmio estudantil (palavrinha horrorosa) - mas disso nos safou um bom samaritano professor de língua portuguesa que influenciou um conselho reunido para aprovar as novas regras de comportamento a serem impingidas aos alunos. No rescaldo, ficamos sem grêmio e o jornal mensal de que eu era redator-chefe foi banido. Infelizmente, nunca mais tive em mãos um exemplar d' A Trama. Soube alguns anos depois que um colega da época possuía uma coleção com várias edições do nosso jornal. Não consegui contato com ele e já perdi a esperança de ver outra vez algo que escrevi há tanto tempo. O presidente do nosso grêmio, que apelidamos Padre, chegou a ser, após o fim da ditadura, vice-prefeito do Rio de Janeiro. Do tal diretor, nunca mais tive qualquer notícia, o que não me fez qualquer falta.

O resto daquele ano foi bem chato e as aulas terminaram para mim no 25 de setembro, quando,  acometido de uma apendicite, fui parar na mesa de cirurgia. Uma semana depois de voltar do hospital, a coisa complicou e passei os dois meses seguintes internado enquanto adquiria uma feia cicatriz no abdome. Não ter sido expulso da escola nem ter morrido por causa de um apêndice estragado foram afinal minhas grandes realizações em 1964.

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