terça-feira, outubro 04, 2016

a raiva contra as ideias

Estou tentando ler Agosto, de Rubem Fonseca. Entre os afazeres domésticos, a TV e o Whatsapp, sempre há de se reservar um tempo para a leitura.
Hoje, a propósito das opções do eleitor no segundo turno de muitas cidades Brasil a fora, lembrei de um diálogo do livro:
O investigador Rosalvo conversa com o comissário Mattos.
"Posso lhe fazer uma pergunta? "
"Pode, respondeu o comissário.
"Afinal, o senhor é lacerdista ou getulista,"
"Tenho que ser uma dessas duas merdas?"
"Não senhor", disse Rosalvo ao ver a careta do comissário. "O corcunda é que sabe como se deita."

Lembro bem do dia em que foi anunciada a morte de Getúlio, naquele Agosto de 1954 a que se refere o livro. Getúlio Vargas, depois de ter governado como ditador, ganhou as eleições para presidente, pelo voto de um povo que via nele um benfeitor. Após sua morte, seguiu-se um período de tumulto institucional do qual o país saiu com a eleição de JK.

Lacerda seguiu na política, foi (bom) governador do então Estado da Guanabara, mas nunca se livrou da pecha de traidor e conspirador.

Quando leio e vejo o que é veiculado nos meios de comunicação e nas redes sociais, sob o pretexto de expressar opiniões, entendo que o modo raivoso usado para atacar as pessoas e distorcer as ideias só serve para desinformar, criar medo, dúvida e incerteza.

Realmente, é difícil de resolver o dilema de escolher o menos ruim.

Talvez por isso, os votos nulos e as abstenções no Rio tenham somado um número maior que os votos recebidos pelo primeiro colocado.

Certamente entre os eleitores que se abstiveram de comparecer ao ato cívico há um grande número de pessoas que, como eu, cansaram de tentar fazer o certo e depois ver tudo dar errado.

Concluindo: esta foi a eleição em que, pela primeira vez, pude exercer meu direito de optar por votar ou não. Escolhi o não.

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