quinta-feira, setembro 23, 2004

Entrevista com o traficante...

A Isto É publicou a entrevista abaixo no início desse ano:

Reis Encina: "Acorda, Brasil!"
Ele foi um dos traficantes mais famosos e lendários do Rio de Janeiro e do Brasil: José Carlos dos Reis Encina, o “Escadinha”. Traficava e alimentava as crianças pobres do Morro do Juramento (no original, Livramento ”?!”), traficava e punia quem roubava trabalhador. Quando o seu nome despontou na mídia, lá pelos começos dos anos 80, costumava-se dizer: se nada for feito, o crime organizado vai dominar o Rio de Janeiro e o País. Escadinha foi preso em 1985 e condenado a 50 anos de prisão (se, assim mesmo, o narcotráfico criou no País um Estado paralelo, essa resposta agora o leitor já tem nas CPIs de hoje). Escadinha protagonizou fugas cinematográficas de helicóptero – numa delas foi baleado. Agora tem o direito de voltar à liberdade. E volta lançando um CD de rap de qualidade (gravadora Zambia) no qual assina as composições de 11 faixas (uma delas é dos Racionais MC's). Na quinta-feira 18 (março de 2004) mais 100 mil cópias do CD chegaram às lojas de todo o País – isso porque as primeiras 100 mil evaporaram. O disco chama-se Brazil 1 (alusão ao presídio Bangu 1). Eis a entrevista que o cidadão e compositor Reis Encina deu a ISTOÉ:
ISTOÉ – O sr. já aconselhou os jovens a fugirem das drogas. Como acabar com o tráfico?
Encina – O tráfico vai acabar quando a sociedade pressionar o Estado a não fazer mais média, achando que prendendo o Escadinha os problemas estarão resolvidos. Nós, do morro, somos cavalinhos num imenso tabuleiro de xadrez. Nunca tive avião, caminhão, navio. Nunca fui político. Os verdadeiros traficantes são aqueles ovacionados pela Nação, os que mandam me prender. Acorda, Brasil!
ISTOÉ – O que o sr. vai fazer saindo da prisão?
Encina – Tenho a pretensão de ser o deputado federal mais votado do Brasil. E vou invadir o Congresso Nacional. A favela, somente a favela, vai comigo.
ISTOÉ – Fale do CD.
Encina – A renda vai para um parque do Juramentão e para melhorias na comunidade. O meu tempo já passou (está com 44 anos de idade). Não há o que discutir. Muita gente acredita que estou regenerado, mas na verdade eu vou ter de provar a mim mesmo todos os dias que isso é real. Eu posso mentir para o mundo inteiro, mas não para mim mesmo.
ISTOÉ – O sr. se arrepende do que fez?
Encina – Sempre tive vocação de ajudar as pessoas e hoje sei que achei a forma errada. Mas não existiam outras formas ao meu alcance. Não me arrependo pelo que fiz, me arrependo por não ter resolvido o problema de todos. Vou encontrar outros caminhos para fazer aquela gente feliz.


Na manhã de hoje, Escadinha foi assasinado quando dirigia pela Av. Brasil. Estava em regime semi-aberto, trabalhando em uma cooperativa de táxis, mas, ao que parece, ainda devia mais do que poderia pagar.

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